Quem nunca gastou tempo ou dinheiro de forma desproporcional num novo serviço, produto, alimento, relacionamento, etc.? Talvez tenha até ouvido de alguém preocupado o provérbio: A diferença entre o remédio e o veneno é a dose[1]. Muito provavelmente você também lembra que o serviço virou comum, o produto saiu de linha, o alimento parou de dar água na boca e, infelizmente, muitas vezes o relacionamento foi perdendo a sua importância.
Parece que desde pequeno somos doutrinados a pensar que “mais é melhor”. Mas as experiências da vida, como as citadas acima, nos lembram que mais tem um limite e que muitas vezes nos falta referência para sabermos quando o mais está se tornando demais. A verdade é que algumas vezes só percebemos que passamos do limite quando começa a chegar à conta: tempo e dinheiro desperdiçado, perdas na saúde física, intelectual e emocional, corrosão das relações sociais, etc.
O dinheiro nas nossas vidas talvez seja o que mais se submete a este ensinamento, “mais é melhor”. Aliás, muitas vezes tentamos resolver a conta acima com mais dinheiro: compramos o tempo de outros, repomos o dinheiro desperdiçado, pagamos por bons tratamentos de saúde física, intelectual e emocional e algumas vezes até criamos relações sociais com nosso dinheiro. Mas invariavelmente, em algum momento, a conta não fecha! Veja o que Eduardo Giannetti tem a dizer sobre esta busca constante por mais:
“O ideal moderno de vida – a ambição de ganhar e consumir sempre mais, ao passo que se permanece indefinidamente jovem, esbelto e distraído – não se sustenta...O fato simples é que, se o critério de sucesso (ou o sentido) de nossa existência for definido segundo esse ideal, então a vida humana nunca poderá ser mais que uma batalha vã, perdida antes mesmo do seu início.”[2]
No livro A Vida ou o Dinheiro de Vick Robin ela argumenta que mais dinheiro em nossas vidas é bom até um ponto. No decorrer das nossas vidas normalmente o nosso poder
aquisitivo vai aumentando e passamos de uma fase de sobrevivência para conforto e
eventualmente um certo luxo. Mas existe um momento em que a satisfação de gastar mais
dinheiro é menor do que o custo de vida que desembolsamos para adquirir, fazer gestão e poupar ou gastar o valor adicional. A autora chama este momento o ponto de suficiência e pode ser representado pelo gráfico ao lado.
Então vemos que o dinheiro pode ser um bom remédio, mas que precisamos acertar a dose para não se tornar um veneno em nossas vidas. Esquecemos que mais tem um preço! Quando sonhamos sobre ser mais ou ter mais, imaginamos os benefícios, mas raramente pensamos sobre o custo de vida. Em sua obra clássica sobre economia, WALDEN, o autor Thoreau faz o seguinte comentário sobre este preço:
“Afinal, o preço de uma coisa é a quantia, à vista ou a prazo, do que chamarei de vida que é exigida em troca.”[3]
O quanto é o suficiente? O suficiente para sobrevivermos, termos conforto e até um certo luxo, sem escassez e sem desperdício. Para responder o quanto é o suficiente, creio que vale a pena entendermos a origem da palavra suficiência. Digo isto porque a maioria das pessoas não se empolgam quando eu digo que é possível eles terem o suficiente. O olhar mais comum é de uma certa decepção. A crítica é que buscar O SUFICIENTE seja aceitar o cômodo ao invés de buscar o crescimento. É fazer a régua por baixo.
A origem da palavra suficiente vem da palavra no latim SUFFICERE que é formada por duas palavras: SUB, “para cima” + FACERE, “fazer”. Então ter o suficiente é definir o que você quer ser ou fazer e depois fazer a régua por cima. Neste sentido a verdadeira liberdade é ter o suficiente! É a capacidade de ser quem você quer ser e fazer o que você quer fazer sem ter que pagar a conta associada com o demais. É viver no pico da curva da suficiência.
Então como descobrir o quanto é o suficiente para você? Deixo aqui quatro passos importantes que você precisa tomar e também uma fórmula que eu uso para avaliar quão perto eu estou vivendo do pico da curva da suficiência. Primeiro, os quatro passos:
1. Tenha claro para você o seu propósito maior de vida e seus objetivos;
2. Busque conhecimento e então coloque em prática uma gestão financeira do dinheiro que entra e sai da sua vida;
3. Crie uma referência interna de valor para avaliar o que vale e o que não vale desembolsar tempo de sua vida para ser ou ter;
4. Desenvolva um senso de responsabilidade pelo bem dos outros para transformar o que seria seu desperdício na suficiência de outros.
Provavelmente você está respirando fundo agora, pensando que estes quatro passos são mais pulos do que passos! Mas descobrir o quanto é o suficiente é uma jornada com linhas de chegada e ajustes no dia a dia. Eu gosto de usar esta fórmula para manter o meu foco no que é suficiente para minha vida:
Ron Blue, autor e planejador financeiro, compartilha que não importa qual estágio da vida você está, responder à pergunta “Quanto é o suficiente?” vai te trazer mais liberdade para dizer “sim” para as coisas que estão alinhadas com seu propósito de vida e seus objetivos de vida e também a dizer “não” para as distrações de “mais é melhor”.[4]
Se você ainda não começou esta jornada, eu quero te incentivar a descobrir a LIBERDADE DE TER O SUFICIENTE!
[1] Adaptação do texto original de Paracelso, “Alle Ding sind Gift und nichts ohn' Gift; allein die Dosis macht, das ein Ding kein Gift ist.” (Todas as coisas são venenos e nada é sem veneno; a dose sozinha torna uma coisa não um veneno). [2] GIANETTI, EDUARDO. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. Editora: Editora Schwarcz Ltda., 2005. ps. 131, 133. [3] THOREAU, HENRY D. Walden ou A vida nos bosques. tradução: Lílian Soares. 1984. p. 40. E-book Kindle. [4] BLUE, RON; GUESS, KAREN. Never Enough? 3 Keys to Financial Contentment. Editora: B&H Publishing Group, 2017.
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